Sejam bem-vindos ao mundo das cólicas do recém-nascido.
A primeira coisa que você precisa saber é a mais importante de todas: você não está fazendo nada de errado. A culpa não é sua. Vamos desmistificar esse fantasma juntos, com base no que a ciência realmente sabe (e no que ela ainda não sabe) sobre o assunto.
O que é Exatamente a Cólica do Recém-Nascido?
Antes de tudo, é crucial entender que a cólica não é uma doença. É um padrão de comportamento.
Na pediatria, usamos uma definição clássica conhecida como a "Regra dos 3", do Dr. Morris Wessel:
- Choro que dura mais de 3 horas por dia;
- Ocorre mais de 3 dias por semana;
- Persiste por mais de 3 semanas.
Esse choro é intenso, agudo e, muitas vezes, inconsolável. O bebê pode enrijecer o corpo, flexionar as perninhas sobre a barriga e soltar gases, o que leva muitos pais a acreditarem que se trata apenas de dor de gases.
A cólica geralmente surge por volta da segunda ou terceira semana de vida, atinge seu pico por volta das 6 semanas e, felizmente, tende a desaparecer sozinha entre os 3 e 4 meses de idade.
Por que Meu Bebê Tem Cólica? (A Culpa Não é Sua)
Essa é a pergunta de um milhão de reais, e a resposta honesta da pediatria é: não sabemos a causa exata.
A cólica é um diagnóstico de exclusão. Isso significa que o pediatra primeiro descarta outras causas para o choro (como refluxo, alergias, infecções ou fome) e, quando o bebê está perfeitamente saudável e ganhando peso, mas segue o padrão da "Regra dos 3", classificamos como cólica.
As principais teorias (e note que são teorias) incluem:
- Imaturidade do Sistema Nervoso: O bebê ainda está se adaptando ao mundo fora do útero. Ele ainda não sabe como processar tantos estímulos (luz, som, movimento) e fica "sobrecarregado" no fim do dia (a famosa "hora da bruxa"). O choro é sua única forma de descarregar essa tensão.
- Imaturidade do Sistema Digestivo: O trato gastrointestinal ainda está aprendendo a funcionar. Os movimentos peristálticos podem ser descoordenados, e a flora intestinal (microbiota) ainda está se estabelecendo.
- Não é (só) Gases: Os gases não costumam ser a causa da cólica, mas sim uma consequência. O bebê chora tanto que engole muito ar, o que aumenta os gases e o desconforto, criando um ciclo vicioso.
10 Técnicas Seguras (e aprovadas) para Aliviar a Cólica.
Quando seu bebê estiver na crise, seu objetivo não é "curar" a cólica, mas "confortar" o bebê (e você) até que ela passe. Aqui estão as técnicas que mais recomendo no consultório, baseadas nas diretrizes da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e da Academia Americana de Pediatria (AAP):
- O "Charutinho" (Swaddling): A técnica de enrolar o bebê de forma firme (mas segura, sempre de barriga para cima) recria a sensação de segurança e contenção do útero. Isso ajuda a acalmar o sistema nervoso. Para quem tem dificuldade de fazer com um cueiro normal, existem cueiros modernos com velcro que facilitam muito. Swaddle Dream e Cueiro Swaddle são ótimas opções.
- Movimento (Ritmo é tudo): O útero não era um lugar parado. Caminhe com o bebê, balance-o suavemente no colo ou use uma cadeira de balanço. O movimento rítmico é um poderoso calmante. A Cadeira de balanço automática é perfeita para isso.
- Contato Pele a Pele (Método Canguru): Tire a roupa do bebê (deixe só a fralda) e coloque-o diretamente contra o seu peito nu. O calor do seu corpo, as batidas do seu coração e sua respiração ajudam a regular o sistema do bebê. Um sling ou canguru também é fantástico para isso. Aproveite esse momento para tomar banho de chuveiro com o seu bebê utilizando das mesmas posições citadas anteriormente. DICA: Se você estiver com medo de o bebê escorregar, coloque uma camiseta para criar atrito do bebê em você. Uma opção eficaz e barata é o Sling em algodão para o banho e você pode ter também a Mochila canguru para quando estiver passeando.
- Massagem na Barriga (Shantala): Com o bebê calmo (não no pico da crise), faça massagens suaves na barriga em sentido horário (o sentido do intestino). Isso pode ajudar a mover os gases. Dobrar os joelhos do bebê sobre a barriga ("bicicletinha") também ajuda. O óleo para massagem Mustela é amplamente recomendado pelos pediatras.
- Ruído Branco: O silêncio pode ser ensurdecedor para um recém-nascido acostumado ao barulho constante do fluxo sanguíneo e dos órgãos da mãe. O som do útero é alto! Use um aplicativo de ruído branco ou ligue o secador de cabelo, o aspirador de pó ou o exaustor da cozinha (em volume seguro, claro). Você pode aproveitar a sua Alexa echo dot para colocar som de ruído, ou pode adquirir um Aparelho de ruído branco, ambos irão suprir perfeitamente essa necessidade.
- A Posição "Anti-Cólica": Segure o bebê de bruços sobre o seu antebraço, com a cabeça dele apoiada na curva do seu cotovelo. A leve pressão na barriguinha ajuda a aliviar o desconforto.
- Banho Morno: A água morna relaxa os músculos e pode "quebrar o padrão" do choro. Um banho de ofurô para bebês é especialmente eficaz por simular o ambiente uterino.
- Verifique a Pega (Amamentação): Se você amamenta, verifique com um profissional se a "pega" está correta. Uma pega inadequada faz o bebê engolir mais ar.
- Pausas para Arrotar: Se o bebê mama (seja no peito ou mamadeira) com muita avidez, faça pequenas pausas para ajudá-lo a arrotar no meio da mamada.
- Acalme-se (Sério, respire!): Esta é a dica mais difícil e a mais importante. Bebês são radares emocionais. Se você está tenso, ansioso e frustrado, ele vai sentir. Se você está no seu limite, coloque o bebê em segurança no berço e vá para outro cômodo respirar por 5 minutos. Não há problema nenhum nisso. Peça ajuda. Reveze com seu parceiro(a).
E os Remédios para Cólica? (Simeticona, Probióticos, Chás)
Aqui, a pediatria precisa falar mais alto que o coração e achismo de pai. No desespero, é tentador usar qualquer coisa que prometa alívio, mas precisamos ter muito cuidado.
- Simeticona (Luftal, Flagass etc.): Embora seja seguro, a SBP e a AAP concordam que não há evidências científicas fortes de que a simeticona funcione para a CÓLICA. Ela age quebrando bolhas de gás no estômago, mas como vimos, os gases são consequência, não a causa principal da cólica. Não faz mal tentar, mas não crie expectativas.
- Chás (Erva-doce, Camomila etc.): NÃO RECOMENDADO. A SBP é muito clara: bebês menores de 6 meses em aleitamento materno (ou fórmula) não devem tomar NADA além de leite. Chás podem trazer riscos de contaminação, alergias, "roubam" o espaço do leite, que é o único alimento que ele realmente precisa e, principalmente, PODEM GERAR QUADROS GASTROINTESTINAIS GRAVES COM RISCO ATÉ DE ÓBITO.
- Probióticos (Lactobacillus reuteri): Esta é a única área com alguma evidência científica promissora. Alguns estudos mostraram que o uso do probiótico Lactobacillus reuteri (como o Colidis, por exemplo) pode diminuir o tempo de choro em alguns bebês com cólica, especialmente os em aleitamento materno. Mas atenção: Não é uma cura mágica e não funciona para todos. Nunca medique seu bebê sem antes falar com seu pediatra.
O probiótico Colidis e o probiótico Kollis são amplamente recomendado pelos profissionais.
Sinais de Alerta: Quando o Choro NÃO é "Só" Cólica
A cólica é um diagnóstico de exclusão. Isso significa que o choro do seu bebê NÃO é cólica se vier acompanhado de:
- Febre (qualquer temperatura acima de 37,5°C em recém-nascido é emergência);
- Vômitos (especialmente se forem verdes/biliosos ou em jato);
- Diarreia (principalmente com sangue ou muco);
- Recusa total em mamar;
- Letargia (bebê muito "molinho", difícil de acordar);
- Perda de peso ou dificuldade em ganhar peso;
- Choro que mudou de padrão (ficou agudo, parece um grito de dor extrema);
Se o seu bebê apresentar qualquer um desses sinais, procure atendimento médico imediatamente.
A Luz no Fim do Túnel: Quando a Cólica Acaba?
Para todos papais e mamães exaustos lendo isso agora: vai passar. A cólica não dura para sempre. Ela é um túnel escuro, mas tem um fim. A grande maioria dos bebês melhora espontaneamente por volta dos 3 ou 4 meses de vida.
Você não está sozinho. Você não está falhando. Você está fazendo um ótimo trabalho em um dos momentos mais difíceis da paternidade/ maternidade. Seja gentil com seu bebê, mas, acima de tudo, seja gentil com você mesmo.